Dois grandes artistas portugueses, Alexandre Farto aka VHILS e Raphael Bordallo Pinheiro encontram-se em "Quimera", a terceira peça da coleção WWB – WorldWide Bordallianos, com a qual se assinalam os 135 anos da fundação da Fábrica das Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro.
A peça foi apresentada no passado dia 29 de outubro nas Caldas da Rainha, com a presença do artista Alexandre Farto, que fez questão que o lançamento de Quimera ocorresse nas instalações da fábrica, sendo, tal como o prato, uma homenagem a todos quantos ao longo de mais de um século honram o legado de mestre Raphael.
A cerimónia contou ainda com a vereadora da Câmara das Caldas da Rainha, Maria da Conceição Pereira, de Nuno Barra, administrador da Bordallo Pinheiro, responsáveis da empresa, colecionadores, jornalistas, colaboradores e outros convidados.
Há 135 anos, Raphael Bordallo Pinheiro, com 39 anos, era um artista absoluto: já tinha sido desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista político e social, jornalista e professor. Mas em 1884 Raphael muda o curso da sua vida e das artes decorativas em Portugal ao fundar, nas Caldas da Rainha, a Fábrica das Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, um empreendimento audaz que se propôs revolucionar as artes tradicionais da cerâmica, cruzando-as com a modernidade, originalidade e irreverência que o caraterizavam.
Em "Quimera", Alexandre Farto expõe a essência do génio de Raphael Bordallo Pinheiro - ceramista, da sua fábrica, evocando também todos os seus trabalhadores – os de ontem, hoje e amanhã, aqueles que, diariamente, materializam e perpetuam o legado singular e revolucionário que Bordallo Pinheiro imprimiu na história da cerâmica portuguesa e do mundo desde há 135 anos. Tal como Raphael Bordallo Pinheiro, Alexandre Farto desafiou todos os limites técnicos e artísticos da cerâmica.
"Quimera" é um prato de parede de grandes dimensões – 61 centímetros de diâmetro – que, ao nível da pintura artística, recupera uma técnica secular de sobreposição de vidrados que eram aplicados nas primeiras peças produzidas pela fábrica Bordallo Pinheiro. Por serem pintados manualmente pelos artesãos da Bordallo Pinheiro, cada um dos 135 exemplares de Quimera são peças únicas e irrepetíveis.
Alexandre Farto desenvolveu um exercício de aproximação entre o seu universo e o de Bordallo Pinheiro através de um trabalho de experimentação e de partilha de conhecimento artístico com a fábrica, aplicando em "Quimera" uma técnica desenvolvida no âmbito do seu projeto “Scratching the Surface”, que consiste na gravação de superfícies em baixo-relevo através da remoção parcial das camadas superficiais, de modo a criar composições através do contraste volumétrico.
Esta técnica foi aplicada com recurso ao jato de areia, aplicado na unidade de cristal da Vista Alegre em Alcobaça, que desbastou a camada superior do vidrado artístico cerâmico no formato de um rosto – o rosto dos heróis anónimos da quimera da Fábrica da Bordallo Pinheiro ao longo dos últimos 135 anos. Esta técnica permitiu assegurar um grande grau de detalhe no rosto que emerge da essência da faiança, expondo diferentes camadas de complexidade, numa metáfora perfeita ao trabalho que diariamente é realizado pelos trabalhadores que estão por trás de todas as peças bordallianas.
“Além da sua multidisciplinaridade, admiro a forma como Bordallo cruzou a produção artística com a manufatura, com tudo o que daí adveio, incluindo o enorme impacto que teve na acessibilidade e democratização da arte popular. Assim sendo, o rosto que figura neste prato é também uma forma de humanizar a fábrica, evocando as pessoas que fizeram e fazem parte dela e continuam a construir sobre o legado de Bordallo. Um símbolo, em suma, da perseverança e da reinvenção, que mantém vivo este processo tradicional de produção”, afirma Alexandre Farto, a.k.a. VHILS.
Trabalhar com Alexandre Farto foi como recuar à génese da fundação das Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, em que a palavra “impossível” não fazia parte do léxico do fundador, Raphael Bordalo Pinheiro. Em conjunto com o artista, foram desafiados todos os limites técnicos e artísticos da faiança, transformando um material que está presente na vida da humanidade desde tempos imemoriais numa peça evocativa aos 135 anos da fábrica, de edição limitada, que vai ficar na história da Bordallo Pinheiro e da arte contemporânea portuguesa.
"Quimera" é a terceira peça da coleção WorldWide Bordallianos, uma edição exclusiva limitada a 135 exemplares numerados, iniciada em 2017, com Figo de Paula Rego, seguindo-se, em 2018, Banana Prata Madeira, da autoria de Nini Andrade Silva. A coleção WWB da Bordallo Pinheiro prevê um lançamento anual, com nomes nacionais e internacionais ligados às áreas criativas das artes plásticas, do design e da moda.
"Quimera" está disponível por subscrição nas lojas da Bordallo Pinheiro e Vista Alegre e tem o preço de 3900 euros.
Alexandre Farto aka Vhils fala sobre a peça que criou, veja aqui.