Museu Vista Alegre (Ílhavo) – 181 anos (10 anos na Visabeira - 3 anos do novo Museu)
A génese do Museu da Vista Alegre remonta ao ano de 1838. Fator decisivo da notoriedade da marca, o museu, sempre associado à fábrica, foi alvo de uma evolução contínua ao longo de quase dois séculos, culminando, em 2016, com a sua total renovação criando o novo Museu Vista Alegre.
Hoje, oferece um circuito expositivo exemplar da história da porcelana e da marca e, adicionalmente, permite interagir ao vivo com os artistas pintores da Vista Alegre.
O Museu está estruturado em 14 salas temáticas: - 1. Os Fornos; - 2. A Fundação; - 3. O Vidro; - 4. Pó de Pedra; - 5. Modernismos; - 6. Comunidade Fabril; - 7. A Comemoração; - 8. O Fascínio da China; - 9. Litofanias; - 10. Animália; - 11. Escultura; - 12. Louça de Aparato; - 13. Contemporâneos e ainda: - Sala VA: Os prémios Vista Alegre.
O Museu integra no circuito, como ponto extra de imersão na marca, o acesso ao Atelier de Pintura da fábrica da Vista Alegre para admirar, ao vivo, o talento dos artistas no seu ambiente de trabalho.
A visita ao Museu inclui a seiscentista Capela de Nossa Senhora da Penha de França, monumento nacional, consagrado à Padroeira da Vista Alegre. Adicionalmente, o lugar da Vista Alegre é um tesouro de descobertas que vale a pena vivenciar como complemento de um dia recheado de experiências e sensações.
O Museu tem ainda para os seus visitantes programas associados à arte e à porcelana, como o “Artista por um dia” em que cada um pode moldar ou pintar uma peça, criando a sua própria obra de arte.
Museu Vista Alegre Cristal (Alcobaça) – 47 anos (Crisal / Atlantis)
A história do Cristal e a da Vista Alegre interligam-se desde a fundação da centenária marca, em 1824. Hoje, a Vista Alegre retomou a sua importante posição neste setor do vidro e cristalaria, incorporando o legado, iniciado em 1972, da Crisal / Atlantis, área do grupo Vista Alegre e que assim retomou a identitária marca mãe.
O Museu do Cristal, integrado nas instalações fabris de Alcobaça, na Zona Industrial Casal da Areia, prepara um processo de renovação e é constituído por duas áreas: - 1. o núcleo histórico dedicado ao vidro e ao cristal; e - 2. a secção de visita fabril que possibilita contactar com a produção de cristal ao vivo, em plena fábrica, e na passagem admirar algumas peças marcantes da tecnologia arcaica desta atividade fabril e artística.
O visitante pode ainda percorrer a loja onde terá contacto peças marcantes e com as tendências mais recentes desta arte milenar.
(link para o guia de visita do Museu do Cristal)
Casa Museu San Rafael (Caldas da Rainha) – 35 anos (4 anos do novo Museu)
A Casa Museu San Rafael, depositária da inicial Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, criada em 30 de junho de 1884, e do legado e talento de Mestre Raphael, foi inicialmente uma mostra da diversificada arte do mestre, exposta na casa da família, reorganizada em 1984, e que veio a ser completamente reformulada e transformada num Museu, que abriria em 21 de julho de 2015.
O novo museu, a fazer agora 4 anos, possui um discurso expositivo orientado para a obra de Raphael Bordalo Pinheiro e do filho, Manuel Gustavo, seu continuador, com um vasto acervo organizado em salas temáticas: - 1. O Sabor das Emoções; - 2. Sonhos em Barro; - 3. Sala Rafael; 4. Sala Mil Caras; - 5. Sala A Fábrica do Mestre; - 6. As Paredes têm Azulejos; - 7. Sala Manuel Gustavo; - 8. Sala A Natureza Bordaliana; a que acresce o hall de entrada, dedicada à diversidade Bordalliana, e os jardins e casa de família com os “animais” à solta.
A visita conclui-se na loja da marca, onde se pode admirar a contemporaneidade e valia artística desta marca secular. A proximidade do Museu da Cerâmica e do Museu José Malhoa permite enriquecer o percurso desfrutando outras obras ímpares do imortal Rafael Bordallo Pinheiro.
Casa da Ínsua (Penalva do Castelo) – 10 anos
A Casa da Ínsua, um autêntico museu vivo em todas as suas valências, tem agora dez anos de atividade, mas conta com duzentos e cinquenta anos de história.
A abertura ao público da histórica unidade hoteleira foi concretizada em 29 de julho de 2009, oferendo o pleno desfrutar de um acervo diversificado de pintura, estatuária, azulejaria, papel de parede, cerâmica, artes decorativas, arquitetura, mobiliário, tecnologia, relógios de sol, arte sacra e militar. Integra, ainda, as áreas da botânica, da hidráulica, e das ciências ocultas, sem esquecer a importante componente agrícola.
Na casa setecentista, destacam-se as salas principais: o hall de entrada, o salão nobre, a sala dos retratos, a cozinha velha, a capela, o painel de Santo António, o jardim francês e o jardim inglês. Um sem fim de pontos de interesse num acervo que, em grande parte, remonta aos meados da década de 70, do século XVIII e que foi sucessivamente enriquecido ao longo da história da Casa, criando condições únicas para uma viagem sensorial pelos últimos 2 séculos.
O Núcleo Museológico, complemento essencial para a interpretação da Casa e a sua ligação com a construção e o estudo do Brasil, teve a sua abertura em 23 de abril de 2013 e está organizado em três secções: i) A construção do novo Brasil e a Viagem Philosophica; ii) A História e vivências da Casa; iii) A oficina doutros tempos.
Mas, uma visita ao museu só fica verdadeiramente completa quando é rematada com o circuito da casa, capela, jardins, adega e quinta.
Museus Visabeira são parte da história dos museus em Portugal
1. Década de 1770 | a época pré museal
As primeiras experiências museográficas ou aproximações remontam ao século XVI, com pioneiras tentativas de sistematização de coleções e exposição. Até finais do século XVIII essas experimentações permanecem em espaços privados, valorizam peças “únicas” e são apenas acessíveis a grupos minoritários, normalmente amigos do proprietário, cientistas ou viajantes. Muitas vezes apelidados de gabinetes de “Curiosidades” fruto de incluírem peças que aventureiros e viajantes recolhiam de outras paragens.
A própria designação de Museu foi evoluindo ao longo do tempo. Em 1806, o Novo Diccionario da língua portugeza limita o conceito ao “lugar onde se guardão producções da Natureza, e da arte, moedas, medalhas”; em 1884, Francisco Solano Constâncio apresenta museu como “depósito de produtos da natureza ou da arte, de história natural, de pintura, esculptura”; já Esteves Pereira, em 1019, define museu como um “edifício onde se guardam os exemplares e objectos raros ou curiosos relativos às ciências, belas artes, letras e indústrias, quer antigos quer modernos”; só em 1945, António Morais Silva classifica museu como “estabelecimento público”.
Na época pré-museal foram criados, fruto da Reforma Pombalina de 1772, os primeiros museus, mas eram espaços objtivamente orientados para fins didáctico / pedagógicos.
O primeiro, o Real Museu da Ajuda (constituído por um núcleo de História Natural, um Jardim Botânico e um Gabinete de Física) tinha como objetivo ser usado para a instrução do herdeiro da coroa, o Príncipe do Brasil (D. José – primogénito de D. Maria I, neto do rei D. José). Pombal refere, em 1773, a importância “do museu e jardim de plantas para a curiosidade do Príncipe”.
Decerto o irmão mais novo, futuro rei D. João VI, (D. José morreria com 27 anos não chegando a ser rei) usufruiu também dele o que induziu na sua vontade cinquenta anos depois, aquando da estadia no Brasil, a criação do primeiro museu brasileiro: O Museu Real do Rio de Janeiro que foi criado em 6 de Junho de 1818, só seria instalado muitos anos depois e arderia completamente passados precisamente 200 anos, em 2018.
Igualmente o Museu de História Natural e o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra são instituídos na mesma altura e com similar orientação pedagógica, aqui para a aprendizagem dos alunos. Os estatutos pombalinos de 1772 são claros afirmando que deveria ser “o Thesouro público da Historia Natural, para Instrucção da Mocidade, que de todas as partes do meu Reino e Senhorios a ella concorrem”
A Casa da Ínsua, o seu circuito de vivência museológica mais o seu acervo artístico inicial, bem como os seus variados jardins botânicos, remontam precisamente a esta época, a década de 70 do século XVIII e têm também o indelével cunho do Marquês de Pombal.
2. A primeira metade do século XIX | a pré-história dos museus em Portugal
Na primeira metade do século XIX, o colecionador mais importante nas décadas de 30 e 40 foi o inglês John Allen (1739-1815), radicado no Porto. Aportuguesado para João Allen, foi uma personalidade de educação cosmopolita, viajante incansável e colecionador de espírito enciclopedista, que abriria no Porto, em 1836, o Museu Allen.
José Ferreira Pinto Basto (1774-1939), empreendedor multifacetado, funda a Vista Alegre em 1824, e dá origem ao primeiro museu privado do país, o museu da Vista Alegre, que tem a sua génese em 1838, um ano antes da morte do fundador.
Nasceriam da iniciativa destes dois visionários os dois primeiros museus portugueses com existência física, peças e coleções organizadas que chegaram aos nossos dias.
Nestes primórdios da museologia portuguesa, não devemos esquecer que, numa ótica mais abrangente, a primeira tentativa de sistematização das riquezas artísticas portuguesas partira de um outro estrangeiro, o Conde Raczynski, embaixador da Prússia em Lisboa, que publicou “Les Arts en Portugal”, Paris, 1846, onde ao mesmo tempo lamentava: “Além do duque de Palmela e do conde de Farrobo, ninguém em Portugal desejava gastar um tostão com as Belas Artes”.
Nestes tempos iniciais, é de justiça destacar também a personalidade de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota (1816-1885), o rei consorte – marido de D. Maria II –, quer pelo seu ativismo, colecionando obras-primas e promovendo artistas, quer pelo apoio e incitamento à indústria associada às artes, ao ponto de ter granjeado o epíteto de “mecenas oficioso da sociedade portuguesa”.
3. Década de 1830 | os primeiros Museus
O verdadeiro conceito de museu nasce com os Museus do Liberalismo. O primeiro, o Museu Portuense, é criado pelo Duque de Bragança (ex-imperador do Brasil e futuro D. Pedro IV) em pleno cerco do Porto em 1833. No entanto, só em 1836 seria emitido o decreto assinado por Passos Manuel – já D. Pedro IV tinha falecido em 1834. E só sete anos depois, em Junho de 1840, o Museu Portuense abriria ao público. Em 1911 passaria à designação que hoje conhecemos de Museu Soares dos Reis.
O Museu da Vista Alegre tem a sua génese, em 1838, ainda em vida do fundador da fábrica da Vista Alegre, José Ferreira Pinto Basto (1774-1839), constituindo-se assim como um dos mais antigos museus do país.
Curiosamente é o cunhado de João Allen, que, fundando a Vista Alegre em 1824, dá origem ao primeiro museu privado do país, o museu da Vista Alegre, que tem a sua génese em 1838, um ano antes da morte do fundador.
Também por essa altura, João Allen (1785-1848), curiosamente cunhado de José Ferreira Pinto Basto, pelo casamento deste com a irmã de João, Bárbara Inocência Felicidade Allen (1783-1858), abre ao público o seu museu, visitável aos domingos, edificado para esse efeito no quintal de sua residência, à Rua da Restauração, no Porto, “uma casa composta de três salas com luz vertical”. O Museu Allen, após a morte do seu fundador e proprietário, viria a ser adquirido, em 1850, pelo município portuense e, mais tarde, integrado no Museu Nacional Soares dos Reis.
4. A partir da década de 1880 | os Museus Nacionais - museus de referência
Em 1884, é criado, em Lisboa, o Museu Nacional de Belas Artes, descendendo da Galeria Nacional de Pintura, que teve a sua génese em 1868, no convento de S. Francisco.
Com a República, em 1911, este museu é dividido em dois: O Museu Nacional de Arte Antiga, que se mantém no Palácio dos Condes de Alvor, às Janelas Verdes, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, que transita para o Chiado.
No Porto, o Museu Soares dos Reis, em 1932, ganha o estatuto de Museu Nacional Soares dos Reis. E depois, em 1940, é reorganizado e transita para o Palácio dos Carrancas, pela mão de Vasco Rebelo Valente.
É o mesmo Vasco Rebelo Valente, que colabora durante muitos anos na direção artística da Vista Alegre, e que, em 1947, toma sob sua responsabilidade a renovação do Museu Vista Alegre. Nessa altura, o Museu foi reformulado e reorganizado, passando a ter o seu núcleo expositivo no hall das escadarias do Palácio, com novos expositores e um circuito expositivo cronológico, segmentado pelos períodos de fabrico.
O Museu Grão Vasco, criado em Viseu, em 1916, no âmbito de um programa da República para constituir uma rede de museus regionais, seria promovido a Museu Nacional de Grão Vasco em 2015. Somente as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Viseu detêm museus com estatuto de Museu Nacional.
As primeiras Casas Museus remontam também aos primeiros anos da República – são a transformação, em 1916, da casa de Cruz Magalhães, ao Campo Grande (Prémio Valmor) em Museu Bordalo Pinheiro. Cruz Magalhães, assumido grande admirador de Raphael e seu grande colecionador, foi o principal impulsionador do Museu. Mais tarde, em 1922, surgiu a Casa-Museu Camilo Castelo Branco, em São Miguel de Seide.
O Museu Bordalo Pinheiro / Casa San Raphael, vem dos primórdios da fábrica, constituída em 1884, por Raphael e seu irmão Feliciano e, depois, continuada por seu filho Manuel Gustavo. Em 2015, para alargar a sua oferta museológica, o Grupo Visabeira, desenvolveu um novo museu, dando continuidade à Casa Museu, anexa à antiga fábrica, mas criando um novo espaço inserido no edifício histórico e introduzindo um circuito expositivo organizado e apelativo.
Este atual museu permite percorrer os vários aspetos da obra do insigne artista, numa viagem pelas várias facetas de ceramista e humorista de Raphael Bordallo Pinheiro e também de seu filho e continuador Manuel Gustavo, no local onde os dois criaram um espólio único no mundo e que se que passou a constituir um excelente complemento ao museu dedicado ao artista em Lisboa.
Nas Caldas, e após a visita ao Museu Bordalo é aconselhável uma passagem pelos Museu do outro lado da rua, no parque, o Museu Malhoa, criado em 1933, onde, entre outras obras de Raphael, se podem admirar as suas magníficas estátuas da paixão de Cristo, realizadas para as capelas do Bussaco – mas onde nunca chegaram – percorrendo aquele que é o primeiro edifício projetado de raiz para museu em Portugal e aberto em 1940. Outra visita complementar que se recomenda, também do outro lado da rua, ao edifício construído em 1890, que foi o Palacete do Visconde de Sacavém, grande mecenas da indústria cerâmica caldense e que alberga hoje o Museu de Cerâmica, criado em 1983, e onde também se destaca um importante núcleo de obras de Raphael Bordallo Pinheiro.
Em 1969, nasce um outro museu de referência nacional: o Museu Gulbenkian que resulta de uma das facetas do enorme legado do seu instituidor, Calouste Sarkis Gulbenkian. A Fundação Gulbenkian tem muitos outros ramos de que a orquestra e o coro são peças exemplares e marcos chave do sucesso da iniciativa privada no domínio cultural, de que infelizmente o ballet já não faz parte, desde 2005.
Pioneiro em muitas frentes, o Museu Vista Alegre é, neste contexto, o mais antigo museu privado do país e uma referência mundial no seu segmento, possuindo um acervo estudado e organizado de mais de 40.000 peças e que se mantém continuamente em crescimento, constituindo com o Museu do Cristal, o Museu Bordallo Pinheiro e a Casa da Ínsua, um rico património histórico, cultural, turístico e industrial que dignifica o Grupo em que está integrado e que delicia os visitantes.